quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A marcenaria fina e artesanal da Cibeles

Victor Garcia de Miguel imigrou para o Brasil, aos 26 anos, depois de viver as agruras do pós-guerra na Europa, no século passado. O espanhol chegou no Porto de Santos em busca de sobrevivência e dignidade (as vagas para Canadá e Venezuela já haviam esgotado). Na bagagem trazia uma experiência que iria transformar a sua vida: ele havia trabalhado em marcenarias que confeccionavam a mobília da burguesia espanhola. A intimidade com o ofício só fez aumentar as oportunidades no país.

"Isso não existe na Europa, essa fartura de madeira. É aqui que vou ficar", diz Miguel, que considerou até comercializar a matéria-prima quando chegou, mas logo iniciou seus trabalhos na marcenaria fina em 1955. Ali nasceu a Móveis Cibeles. O interesse pelos móveis clássicos e releituras de estilos como Luís 15, Luís 16, Chippendale, mobília chinesa, inglesa e espanhola encantou clientes que compravam os móveis de estilo europeu para decorar suas residências urbanas, fazendas, casas de praia, entre outros.

Em 1974, o êxito comercial levou Miguel a comprar um terreno no Pari, na zona norte da cidade, e construir uma fábrica onde já chegaram a trabalhar 40 funcionários. Alguns anos depois de os filhos Victor e os gêmeos Aureliano e Henrique se formarem, o empresário os convidou para tocar a Cibeles, batizada em homenagem à praça de Madri, onde ele nasceu.

"Quando chegamos, organizamos o catálogo, colocamos preço e começamos a atender os clientes. Só meu pai sabia quanto custavam as peças", lembra Aureliano, que assumiu o controle operacional da Cibeles e manteve a qualidade dos processos, como a confecção artesanal, o uso da meia esquadrilha, ausência de pregos na junção das madeiras e polimento feito à mão.

Com a abertura de mercado, as vendas começaram a ficar menores e o consumidor passou a comprar móveis importados da China, mais econômicos. A mão de obra também escasseou. "Tenho muita dificuldade para encontrar profissionais qualificados", diz Aureliano, que junto com o irmão, pensa em colocar o patrimônio à venda, mas continua atendendo sob encomenda.

O acervo de peças da Móveis Cibeles ocupa os quatro andares da fábrica (são mais de 200 cadeiras, e mais criados-mudos, mesas, aparadores) e são um importante registro da história do mobiliário e dos costumes da sociedade. 




O acervo da Cibeles conta a história dos costumes de sociedades do mundo inteiro: França, Inglaterra, Espanha e Brasil
Cadeira Medalhão de Jacarandá: não existe mais essa madeira


Espaldar folhado a ouro na cadeira que pertenceu a Victor Garcia de Miguel, o "senhor" Cibeles


Palhinha pintada: retrato de uma época


Cadeiras, mesas, espelhos: móveis clássicos que nunca
irão se perder no tempo



O criado-mudo feito e pintado à mão e tampo de mármore (atrás) ficava na residência de Miguel


A fachada da Móveis Cibeles no Pari

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