domingo, 15 de junho de 2014

Luxo cultural: Zécarlos Machado em cena

Zécarlos Machado em cena de Retratos Falantes: fabuloso


Quando saí de casa para prestigiar o espetáculo Retratos Falantes, em cartaz no Tucarena, eu já sabia que seria submetida a um exercício cênico de altíssima qualidade. Os precedentes eram incontestáveis e vinham em dupla: direção de Eduardo Tolentino de Araújo, do Tapa, grupo de teatro conceituado e longevo na história dos palcos paulistanos (desde 1979). E um solo de Zécarlos Machado, daqueles atores que nos faz respirar com dificuldade e mexer na cadeira, eventualmente, tamanha a provocação a que ele nos submete.

O texto é do dramaturgo inglês Alan Bennett, 80 anos, que apresenta, como diz Tolentino, “pessoas comuns, quase invisíveis, que, muitas vezes, podem estar ao nosso lado. Não são aquelas que estamos habituados a ver nas revistas de fofocas e de celebridades, nem os marginais que povoam as folhas dos jornais. São retratos de figuras anônimas que podem estar no nosso convívio". 

No primeiro solo da peça, Brian Penido nos traz um solteirão que cuida da mãe e tem problemas com sua sexualidade. Alterando a voz e o gestual, Brian interpreta em cena vários personagens, como o namorado da mãe e sua filha. O humor é cáustico, ácido, duro. E nos transporta talvez para a periferia de alguma cidade inglesa, como Leeds, onde Bennett nasceu. 

Na segunda parte do espetáculo, é a vez de Zécarlos Machado dar um show. Fiquei de boca aberta. A presença no palco circular do Tucarena é perigosa, porque o público se dispersa pelas cadeiras e o ator precisa contemplar a plateia inteira. Ele não decepciona - o palco é totalmente de Zécarlos. A postura corporal, a voz, o figurino, os trejeitos. O personagem é dificílimo e esconde um segredo, logo revelado, muito difícil de enfrentar. Um perturbado social, um desajustado, um personagem que instiga qualquer ator. Uma armadilha, se o ator não der conta do recado.

Zécarlos conquista o público. A pequena temporada está sendo prejudicada pelos jogos da Copa do Mundo, mas eu diria que para quem gosta do trabalho de ator, com um espetáculo focado em texto e interpretação, sem megalomania, o passeio é fundamental. Simpáticos e profissionais que são, o elenco e o diretor recebem a plateia, ao final do espetáculo, para discutir a peça. É ou não é um exercício de amor o que esses caras fazem? Parabéns.



Serviço

Retratos Falantes, de Alan Bennett (1934)
Direção - Eduardo Tolentino de Araújo
Elenco – Brian Penido e Zécarlos Machado
Temporada: de 6 de junho a 6 de julho de 2014
Espetáculos: sextas e sábados, às 22h, e domingos às 19h
Ingressos: R$ 50 / R$ 25 (meia)
Classificação: 14 anos
Duração: 80 minutos
Capacidade: 300 lugares
Local: Tucarena
Rua Monte Alegre, 1024 - Entrada pela Rua Bartira

Ingressos pela internet: www.ingressorapido.com.br ou telefone 4003-1212
Horário de atendimento da bilheteria
Terça a domingo, das 14h às 20h
Formas de Pagamento: dinheiro ou Amex, Aura, Diners, Hipercard,
Mastercard, Redeshop, Visa e Visa Eletron
Valet apenas sábados e domingos: R$20
Estacionamento conveniado Pier Park Estacionamentos - Rua Monte Alegre, 835: R$14 (Valor válido somente mediante a apresentação de ingressos das peças em cartaz no TUCA)

O dramaturgo inglês Alan Bennett, 80 anos


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