sexta-feira, 21 de março de 2014

O coelho de Alice

O coelho não consegue esperar

Quem está apaixonado precisa esperar. E isso nem sempre é a tarefa mais fácil do mundo. Tenho em minha estante um livro a que sempre recorro quando quero entender a paixão que move os seres humanos, a paixão que me move. Trata-se de Fragmentos de um Discurso Amoroso, escrito por Roland Barthes (1915-1980). As folhas amarelas e gastas sempre me salvam. Gosto muito de uma passagem que trata da espera. Outro dia lembrei dele e me confortei ao rever uma pequena fábula, que mesmo depois de tê-la lido dezenas de vezes, ainda me emociona. "Um mandarim estava apaixonado por uma cortesã. 'Serei sua, disse ela, quando tiver passado cem noites a me esperar sentado num banquinho, no meu jardim, embaixo da minha janela.' Mas, na nonagésima nona noite, o mandarim se levantou, pôs o banquinho embaixo do braço e se foi". 

Presto muita atenção nas histórias das minhas amigas quando elas conhecem alguém que pode vir a ser um "item", como dizem os americanos. Mas confesso que fico um pouco intrigada ao ver que, elas, mesmo depois de alguma estrada, e supostamente, com alguma experiência no assunto, não sabem muito o que fazer. A velocidade com que elas desejam que a história deslanche é impressionante. Na mesma hora me vem à cabeça a imagem do coelho de Alice, a personagem do romance de Lewis Carroll, que só corre e diz "que nunca tem tempo". Ele precisa correr. Será que não dá para desacelerar um pouco e deixar que tudo aconteça de maneira mais natural?

Tenho dúvidas. Também não sei como deve ser. Ligo? Não ligo? Mas será que eu posso falar isso? Será que é muito cedo? Será que ele vai me procurar? O que será que está passando na cabeça dele? São muitas perguntas, não consigo responder. Ultimamente sinto que as pessoas querem amar, precisam estar apaixonadas para que a vida siga o seu percurso. Isso é ótimo, eu gosto, admiro e aplaudo.

O amor deixa o ambiente mais leve, o bom humor se faz cada vez mais necessário na vida louca que levamos. É preciso ter calma para construir algo. É preciso conversar muito, beijar, namorar, fazer sexo, enfim, viver cada minuto e descobrir ao final do dia que o amor esteve ali. E acordar no dia seguinte e começar tudo de novo. A palavra é: paciência. Sim, eu estou apaixonada e gosto de esperar todos os dias. 

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