O
trabalho do artista plástico sul-africano William Kentridge é tão
contundente que Laura Cumming, crítica do jornal inglês The
Observer, chegou a comparar seu trabalho às obras do francês Honoré
Daumier (1808-1879) e do espanhol Francisco de Goya (1746-1828). A
força de sua criatividade, que desabrocha principalmente em lápis,
tinta e carvão, é pura denúncia política, reflexo de seu tempo,
criatividade levada ao extremo.
É
impossível deixar a retrospectiva que a Pinacoteca do Estado de São
Paulo apresenta até o dia 10 de novembro sem se emocionar. São 38
desenhos, 35 filmes e animações, 184 gravuras, 31 esculturas e duas
vídeo instalações, produzidas pelo artista entre 1989 e 2012,
incluindo séries inéditas de trabalhos. Essa é a primeira grande
exposição sobre Kentridge na América do Sul. A
mostra, especialmente concebida para o Brasil, chega ao país graças
à parceria entre o Instituto Moreira Salles, a Fundação Iberê
Camargo – que já receberam a mostra.
Kentridge
nasceu em 1955, filho de dois advogados liberais ligados ao combate
do apartheid. Seu pai, sir Sydney Kentridge, defendeu o ativista
Steve Biko (1946-1977), morto durante o regime. Nos anos 70, o
artista confeccionou pôsters para sindicatos, manifestação de
estudantes e companhias de teatro. Mais tarde, formou-se na
Johannesburg Art Foundation e tem trabalhado com gravuras,
esculturas, desenhos e filmes desde então. É considerado o maior artista de seu país.
Na
retrospectiva, um presente aos visitantes. A obra De
como não fui Ministro d'Estado foi feita exclusivamente para a
exposição brasileira. O artista faz uma intervenção, desenhando
sobre as páginas de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado
de Assis publicada pelo Clube do Livro, em São Paulo, em 1946. “É
um livro que eu li há muitos anos, talvez 20 anos atrás, e me
pareceu um grande exemplo de como é possível moldar a narrativa,
tomar o absurdo e transformar em algo realista. Eu tinha uma edição
de colecionador, dos anos 1920, mas ela não era boa para
desenhar. Usei uma edição muito barata, de larga escala, com papel
de má qualidade que no entanto foi belíssima para desenhar”,
diz.
William
Kentrige, Fortuna, está em cartaz na Pinacoteca do Estado de São Paulo, e é gratuita aos sábados e
domingos. O catálogo da mostra está esgotado.
Praça da Luz, 2, São Paulo, telefone (11) 3324-1000
Filme de animação Felix in Exile
(from Drawings for Projection), de 1994
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Desenho Sem Título (9 pássaros voando), de 2011
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Vídeo Lição de desenho 47 (Entrevista com o artista), de 2010
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Desenho de Estereoscópio, de 1998 |
Filme de animação História da Queixa Principal (da série Desenhos para Projeção), de 1996
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Reprodução da obra De como não fui Ministro d'Estado
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