segunda-feira, 28 de outubro de 2013

William Kentridge, muito além do preto e branco


O trabalho do artista plástico sul-africano William Kentridge é tão contundente que Laura Cumming, crítica do jornal inglês The Observer, chegou a comparar seu trabalho às obras do francês Honoré Daumier (1808-1879) e do espanhol Francisco de Goya (1746-1828). A força de sua criatividade, que desabrocha principalmente em lápis, tinta e carvão, é pura denúncia política, reflexo de seu tempo, criatividade levada ao extremo.
É impossível deixar a retrospectiva que a Pinacoteca do Estado de São Paulo apresenta até o dia 10 de novembro sem se emocionar. São 38 desenhos, 35 filmes e animações, 184 gravuras, 31 esculturas e duas vídeo instalações, produzidas pelo artista entre 1989 e 2012, incluindo séries inéditas de trabalhos. Essa é a primeira grande exposição sobre Kentridge na América do Sul. A mostra, especialmente concebida para o Brasil, chega ao país graças à parceria entre o Instituto Moreira Salles, a Fundação Iberê Camargo – que já receberam a mostra.
Kentridge nasceu em 1955, filho de dois advogados liberais ligados ao combate do apartheid. Seu pai, sir Sydney Kentridge, defendeu o ativista Steve Biko (1946-1977), morto durante o regime. Nos anos 70, o artista confeccionou pôsters para sindicatos, manifestação de estudantes e companhias de teatro. Mais tarde, formou-se na Johannesburg Art Foundation e tem trabalhado com gravuras, esculturas, desenhos e filmes desde então. É considerado o maior artista de seu país. 
Na retrospectiva, um presente aos visitantes. A obra De como não fui Ministro d'Estado foi feita exclusivamente para a exposição brasileira. O artista faz uma intervenção, desenhando sobre as páginas de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis publicada pelo Clube do Livro, em São Paulo, em 1946. “É um livro que eu li há muitos anos, talvez 20 anos atrás, e me pareceu um grande exemplo de como é possível moldar a narrativa, tomar o absurdo e transformar em algo realista. Eu tinha uma edição de colecionador, dos anos 1920, mas ela não era boa para desenhar. Usei uma edição muito barata, de larga escala, com papel de má qualidade que no entanto foi belíssima para desenhar”, diz.

William Kentrige, Fortuna, está em cartaz na Pinacoteca do Estado de São Paulo, e é gratuita aos sábados e domingos. O catálogo da mostra está esgotado.
Praça da Luz, 2, São Paulo, telefone (11) 3324-1000

Filme de animação Felix in Exile 
(from Drawings for Projection), de 1994

Desenho Sem Título (9 pássaros voando), de 2011

Vídeo Lição de desenho 47 (Entrevista com o artista), de 2010
Desenho de Estereoscópio, de 1998

Filme de animação História da Queixa Principal (da série Desenhos para Projeção), de 1996


Reprodução da obra De como não fui Ministro d'Estado

Nenhum comentário:

Postar um comentário